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Consciência Negra é celebrada com atividades culturais e reflexões sobre o racismo no campus Aracruz

Semana da Conciência Negra no Ifes campus Aracruz

O dia 20 de novembro foi instituído como o dia Consciência Negra pela Lei Federal 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade da abordagem da história e da cultura dos negros e da África nos currículos das escolas de Educação Básica. Essa data faz alusão ao dia da morte de Zumbi dos Palmares, importante referência de luta e resistência para negros e negras do Brasil.

O Grêmio Anísio Teixeira (GAT) e o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi), com apoio da Comissão do Recreio Cultural, organizaram um ciclo de atividades culturais e informativas nos dias 20 e 21 de novembro para celebrar e refletir a respeito da consciência negra e o racismo estrutural em nosso país. Além das apresentações no palco, foram divulgados dados sobre a presença da população negra no Campus Aracruz e fixados cartazes sobre expressões cotidianas que revelam o racismo velado, típico da sociedade brasileira.

Na quarta-feira (20), estudantes do campus Aracruz, com participação da convidada Samira Santos, realizaram apresentações musicais de cantoras negras como Bia Ferreira, Elza Soares e Iza. Na quinta, o convidado especial foi o aluno do pré-ifes de Ibiraçú Deko MC no turno matutino e, no turno vespertino, o estudante Olavo Gonçalves (Diretor do GAT) leu seu texto autoral sobre o racismo e a resistência negra no Brasil (leia abaixo). Para acessar as fotos do evento, visite a página do facebook do campus, /ifesaracruz. 

Confira o texto do aluno Olavo Gonçalves abaixo:

Nesse dia da Consciência Negra, nós viemos dar consciência negra a essa escola. Não estamos aqui para dizer o quão lindo é ser negro, ou preto, ou pra exaltar a beleza afro-brasileira. Acredito que não era isso que a sociedade pensava quando fez o que fez com Ágatha Felix, com Amarildo de Souza, com Douglas Rafael etc. Os escopos da sociedade racista, que aboliu a escravidão, mas não aboliu o racismo; que tirou o negro da senzala, mas abriu as portas para a desigualdade social. Estamos aqui para dar Consciência Negra para essa escola, que ultrapassa uma consciência étnico-racial e se transforma numa consciência social, histórica e política.
Elza Soares disse "A carne mais barata do mercado é a carne negra" e plantou sementes culturais que dizem do preto no Brasil por meio de suas músicas e hoje é detentora de um Doctor Honoris Causa. Quando o país é governado a canetadas e assinaturas, nos lembramos de uma canetada considerada "salvadora" para alguns, mas que se revela não tão salvadora para muitos. A Lei Áurea assinada pela "redentora" Princesa Isabel, que vale ressaltar ser dona de escravos, aboliu a escravatura, fazendo o Brasil ser o último país das Américas e do Ocidente a aboli-la no papel, porém deixou muitas cicatrizes que doem até os dias de hoje quando famílias e comunidades pretas tiveram que sair sem nada das "terras brancas" e construir moradas em encostas, morros, barrancos, margens de rios a partir da terra e do barro (o que deu origens a favelas, periferias, comunidades ribeirinhas e assim por diante).
É importante ressaltar, ainda, que não foram todos os escravos que foram libertos de imediato, e os que foram saíram dessas terras sem sustento, sem recursos, sem materiais, sem educação, sem saber ler, enquanto as famílias brancas gozavam de comida, roupas, casas, regalias, professores particulares europeus e detinham o monopólio do poder. Isso reflete muito hoje quando se olha para as comunidades marginalizadas e se vê muito mais pretos do que brancos e, também, quando nessas comunidades, se morrem, ou melhor, se MATAM, muito mais pretos do que brancos por motivos de cor de pele e etnias diferentes.
Quando guarda-chuvas são confundidos com fuzis, quando crianças são mortas em vans todos os dias, quando se elevam discussões e suspeitas sobre roubos e pretos são acusados simplesmente por serem pretos, muitas vezes estes são mortos, machucados, feridos, torturados, chicoteados nus atrás de armazéns. Isso revela na sociedade um sistema estruturado e estruturante de desvalorização, silenciamento e opressão baseado na cor da pele que sofreu e construiu esse país. Um sistema que centraliza uma cultura europeia e euro-descendente em detrimento de uma legião de nações negras escravizadas e culturas afro-descendentes assassinadas.
Então, brancos, não se ofendam quando minorias etnopolíticas dizem que você não sofre racismo. Agradeça por não ter que sair da rua com medo de ser barrado pela polícia por causa da sua pele. "Mas, Olavo, você é pardo, por que você está falando isso? Você nem é tão negro!"... Então diferentes tonalidades de pele te assustam? Então, por eu não ser africanizado, não ter pele tão retinta e trejeitos periféricos eu não sou negro? Eu os convido, então, a voltar no tempo e ir numa fazenda e dizer para a escrava preta que foi ESTUPRADA pelo homem branco, que saiu da Casa Grande e invadiu a senzala, que o filho dela não é negro por causa de uma diferença de tonalidade. Por fim, vamos lembrar que num país racista como o Brasil, meu tataravô foi um produto e o seu foi o comprador. Tudo isso serve para comprovar que a carne mais barata do mercado é realmente a carne negra”.
Olavo Gonçalves
(Texto apresentado em 20/11/2019 no Ifes Campus Aracruz)

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